Tratado para acabar com a polução causada pelos plásticos
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Autoria de Hein Schumacher
À medida que os estados membros da ONU começam a preparar-se para a quarta ronda de conversações sobre o tratado em abril, a reunião anual do Fórum Económico Mundial serve de plataforma para promover o debate. Leia as ideias do CEO da Unilever, Hein Schumacher, neste blogue publicadas pela primeira vez no site do Forúm Económico Mundial [FEM].
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Hein Schumacher
Chief Executive Officer
Nomeado CEO em julho de 2023, nessa qualidade é responsável por liderar uma das maiores e mais geograficamente diversificadas empresas de bens de consumo do mundo, com presença em 190 países, cujos produtos são usados por 3,4 mil milhões de pessoas diariamente.
São necessárias medidas urgentes para acabar com a poluição causada pelos plásticos. O atual ciclo de vida dos plásticos continua a ser essencialmente linear - adquirir, fabricar, eliminar - e as estatísticas da OCDE são reveladoras: entre 2000 e 2019, a produção e os resíduos de plástico mais do que duplicaram, enquanto apenas 9% do plástico acaba por ser reciclado.
Os dados da OCDE mostram também que a quantidade de resíduos de plástico produzidos pode quase triplicar até 2060, com cerca de metade a acabar em aterros e menos de um quinto a ser reciclada. As emissões de gases com efeito de estufa provenientes do sistema do plástico poderão ainda aumentar 63% até 2040, uma trajetória incompatível com os objetivos do Acordo de Paris sobre o Clima.
As embalagens representam cerca de um terço da utilização global de plásticos. A Unilever reconhece que está diretamente ligada ao problema. Uma grande quantidade das nossas embalagens de plástico acabam espalhadas no meio ambiente.
A Unilever bem como outras empresas têm-se empenhado neste desafio através de iniciativas voluntárias tais como a Fundação Ellen MacArthur (EMF) e o Compromisso Global do Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA). Mas estas iniciativas não resolveram o problema - longe disso.
As empresas signatárias ultrapassaram significativamente os seus pares no combate aos resíduos de plástico, o que mostra que um esforço concertado pode desencadear mudanças - mas não à escala necessária. Com apenas 20% de adesão da indústria, a resposta é claramente insuficiente para a dimensão do desafio.
Torna-se evidente que as iniciativas voluntárias não são suficientes. São necessárias mais intervenções em toda a cadeia de valor dos plásticos, tanto na produção a montante como na gestão de resíduos a jusante. As iniciativas voluntárias também distorcem o mercado, reduzindo demasiadas vezes a competitividade das empresas que tomam medidas. São precisos regulamentos mais fortes e harmonizados para colocar todos no caminho certo de forma a eliminar os resíduos de plástico e a poluição.
Um tratado juridicamente vinculativo representa uma oportunidade fundamental para o conseguir - ajudando-nos a evitar uma manta de retalhos de esforços nacionais desconexos e a criar condições equitativas na economia global. No sentido de apoiar o tratado, a Unilever ajudou a criar a Coligação Empresarial para um Tratado Global sobre o Plástico, a fim de transmitir confiança aos negociadores dos Estados-membros de que as empresas e as instituições financeiras reconhecem a importância da regulamentação para acabar com a poluição causada pelos plásticos.
A ação voluntária das empresas, por si só, não é suficiente; pedimos regras mais fortes e regulamentos harmonizados em todo o ciclo de vida do plástico.
Hein Schumacher, CEO da Unilever
A Coligação Empresarial apela a um tratado centrado na redução, circulação e prevenção dos resíduos de plástico. Um tratado abrangente que aborde todo o ciclo de vida dos plásticos e não apenas a reciclagem a jusante ou a gestão de resíduos.
As empresas reagem à segurança regulamentar. Um enquadramento jurídico coerente irá clarificar as ações que têm de ser tomadas relativamente a empresas como a nossa, onde temos de nos concentrar a curto prazo e investir a longo prazo. E podemos fazê-lo sabendo que todos estão a cumprir as mesmas regras.
Convidamos as empresas e organizações que partilham esta visão a juntarem-se à Coligação Empresarial e a unirem-se em torno da nossa visão para o tratado. Uma voz partilhada é uma voz mais forte.
Acelerar a política em matéria de plásticos
A última ronda de negociações do Tratado sobre o Plástico terminou em desilusão. Apesar dos melhores esforços da maioria dos Estados-membro que apelavam a um tratado ambicioso e eficaz, houve uma proliferação de propostas alternativas de texto que procuravam restringir o âmbito do tratado apenas a medidas de gestão de resíduos a jusante. Mas é um facto que não resolveremos o desafio da poluição causada pelos plásticos sem abordar todo o ciclo de vida dos mesmos.
Os membros da Coligação Empresarial para um Tratado Mundial sobre os Plásticos querem ajudar de todas as formas possíveis. Temos muita experiência sobre o que funciona - e o que não funciona - através das nossas iniciativas voluntárias e experiências com várias leis e regulamentos nacionais. Estes incluem áreas políticas críticas como as regras globais de conceção de produtos, a Responsabilidade Alargada do Produtor (EPR) e os sistemas de embalagens reutilizáveis e recarregáveis.
A Reunião Anual do Fórum Económico Mundial oferece uma plataforma para estes debates. Esta geração tem uma oportunidade única para resolver este problema - por isso, não vamos desperdiçar essa oportunidade.
Este blogue foi publicado pela primeira vez no site do Fórum Económico Mundial, em 11 de janeiro de 2024.
As opiniões expressas neste blogue são da exclusiva responsabilidade do autor e não do Fórum Económico Mundial.
A fotografia é de uma escultura de cerca de 9 metros intitulada "Turn off the plastic tap" (Feche a torneira ao plástico) do artista canadiano Benjamin von Wong, feita com resíduos de plástico do bairro de lata de Kibera, em Nairobi.